terça-feira, 28 de julho de 2009

“FUTSAL TERCEIRENSE ESTÁ NO CAMINHO CORRECTO”

IN: Diário Insular Luís Almeida 27 de Julho de 2009
ANDRÉ TEIXEIRA, TREINADOR CAMPEÃO NACIONAL EM FEMININOS

ANDRÉ TEIXEIRA realça as diferenças entre futsal e futebol

O orientador do curso de Nível I para treinadores de futsal promovidopela AFAH, André Teixeira, entende que a modalidade tem evoluído de forma considerável, mormente após o arranque dos escalões de formação.

"O futsal terceirense está no bom caminho e reúne condições para continuar a evoluir de forma sustentada. A formação de quadros técnicos cada vez mais especializados e o arranque dos escalões de formação são dados positivos. A opinião é de André Teixeira, responsável pelo recente cur­so para treinadores de Nível I organizado pela Associação de Futebol de Angra do He­roísmo.

Segundo o treinador prin­cipal dos Restauradores Avintenses, clube de Vila Nova de Gaia que se sagrou, na época transacta, campeão nacional de futsal feminino, a qualidade é real. “ Na minha opinião – algo que, inclusive, transmiti aos treinadores presentes – este é o curso onde existe maior qualidade, até porque todos já possuem uma vivência e uma experiên­cia que lhes permitem maior bagagem para enfrentar a formação”, refere.

Aliás, os treinadores locais demonstraram possuir co­nhecimentos importantes, o que pode proporcionar um futuro risonho. “Muitos dos conteúdos e dos conceitos que foram debatidos durante o curso já não eram com­pletamente estranhos para os técnicos em formação. Penso que desenvolvemos um excelente trabalho e desta formação poderão sair gran­des treinadores”, frisa André Teixeira, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta para um curso de Nível II a realizar na Terceira no próximo ano.

Sobre o curso, a explica­ção é do próprio formador. “Existe um padrão de ensino dos conteúdos, a começar por uma abordagem teórica, que incidiu sobre a essência do jogo, desde os seus princípios, fases e formas de compre­endê-lo. Na componente táctica, abordámos aspectos no âmbito dos três grandes momentos do jogo: ataque, defesa e transição. Apartir daqui, há toda a construção de um processo próprio, pois existe a necessidade, quando se assume a direcção técnica de uma equipa, de definir cla­ramente como atacar, como defender e que estratégias usar para quando se perder ou recuperar a posse do esférico. É por aqui que começa todo o trabalho”, explica.

FUTSAL E FUTEBOL

Esta é a terceira vez que o treinador de Nível 4, que integra a Bolsa Nacional da Associação de Treinadores, se desloca à Terceira para acções de formação. André Teixeira entende que o grau de capacidade subiu consi­deravelmente. “Encontrei a modalidade num patamar muito precoce aquando da minha primeira vinda à Terceira. Existia apenas um campeonato e a média de idades deveria rondar os 30 anos, pois o futsal recebia os atletas que penduravam as chuteiras no futebol. No segundo curso, já existia um desenvolvimento interessan­te, mas nada de transcenden­te, até porque não existia escalões de formação. Neste momento, penso que o futsal terceirense está a caminhar no sentido correcto”, frisa.

A formação é a palavra-cha­ve. “Criaram-se os escalões jovens, existem campeonatos de ilha nos diversos escalões e o futsal feminino também começa a aparecer, como evidência a presença do Posto Santo na Taça Nacional. Aliás, os Açores já contam com equi­pas a disputar o nacional da 3.ª divisão. No fundo, penso que a evolução é uma realidade. Este curso vem ajudar a que os responsáveis técnicos possam ter acesso a outros conteúdos e conceitos, para que esta evolução seja progressiva. No entanto, o grande cerne da questão passa por trabalhar forte na formação, realizando um trabalho de base bastante alargado”, acrescenta.
No caso terceirense, o futsal cresceu à custa do “ali­mento” que foi encontrar no futebol, recebendo muitos dos jogadores que foram abando­nando os relvados. Para André Teixeira, não é possível disso­ciar as duas modalidades, pois os objectivos e os princípios de jogo são semelhantes. O que muda, essencialmente, é o futsal ser disputado em pavilhão e num terreno de menores dimensões, o que imprime maior velocidade ao jogo. “Mas é necessário que se comece a separar as coisas de forma mais concreta, par­tindo para a especialização”, reforça.

FORMAR

Começar a criar esca­lões nas faixas etárias mais baixas é um dos rumos a seguir, pois o futebol tem muitas diferenças no que toca aos aspectos técnicos. “Os vícios que se adquirem no futebol acabam por não ser positivos, principalmente nas acções individuais, como o passe e a recepção. Numa fase inicial, foi importante esta ‘transferência’ de jogadores do futebol para o futsal, mas, cada vez mais, é fundamental que haja a sensibilidade para se compreender que o futsal é uma modalidade específica e que requer a especificidade da formação, que terá de ser iniciada com atletas cada vez mais novos, como as escoli­nhas”, atira André Teixeira.

Tecnicamente, a explicação é bastante simples, como exemplifica o nosso interlo­cutor: “no futebol, a recepção é feita, quase sempre, com a parte interna do pé. No fut­sal, devido às dimensões do campo e ao facto de a defesa estar sempre muito próxima do adversário, a recepção com a planta do pé é a mais utilizada. São estes vícios que, transportados para o futsal, criam dificuldades. É impe­rioso estar a atento a estas questões e começar a formar os atletas desde o escalão de escolinhas”.

Aconstante aprendizagem dos quadros técnicos é, ao mesmo tempo, imprescindível, pois, para se formar, é neces­sário ter formação. André Teixeira afirma que o futsal terceirense está a percorrer o caminho correcto e é uma modalidade cada vez mais divulgada, mas alerta: “é de crucial importância este tipo de acções de formação, pois torna-se determinante que os treinadores, cada vez mais, se especializem na modalidade de futsal, atendendo a que só assim a transmissão de conhecimentos e conceitos será feita de forma efectiva. Ametodologia e os concei­tos de organização do jogo e dos seus princípios gerais divergem do futebol”.

Nomes e FPF

Aos 32 anos, o técnico que já dirigiu o Braga, subindo à 1.ª divisão, e o Alto de Avilhó, onde conquistou o nacional de futsal feminino, acredita que a saída da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pode ser de­terminante para o futuro da modalidade. “É preciso compreender se as pessoas querem, de facto, que a modalidade continue a evo­luir. Neste momento, o futsal português é um departamento na estrutura da FPF. Nós, treinadores e jogadores de futsal, queremos que a modalidade evolua. O que querem os dirigentes? Não sei. Na minha opinião, vai chegar uma altura em que o futsal terá de sair da FPF”, atira.

Por outro lado, entende que equipas como Benfica e Sporting acabam por relegar para segundo plano a importância de clubes como a Fundação Jorge Antunes ou o Freixieiro, que já foram campeões nacionais. “Existe um problema com os ‘nomes’. Em termos de patrocinadores, esta situação é evidente e nota-se, talvez até de forma mais vincada, nos femininos. Poucos saberão da existência dos Restauradores Avintenses, que é o campeão nacional e alberga nas suas fileiras jogadoras de alto nível e de selecção nacional. Não obstante, temos sentido algumas dificuldades, por exemplo, para participar na Taça Ibérica e na Taça das Nações, uma vez que o nome do clube acaba por ser um factor limitador”, salienta.
A outro nível, mesmo afirmando que a modalidade nunca irá chegar ao patamar do futebol, reforça a evolução que o futsal tem conhecido nos últimos anos, ao ponto de ser a número 1 no que toca a desportos de pavilhão. “Só a título de exemplo, refira-se que a Associação de Futebol do Porto tem mais atletas praticantes em futsal do que em futebol”, exemplifica.
“O futsal é um desporto que está a explodir, até por ser uma modalidade de pavilhão, logo, imune às condições climatéricas. É vista, cada vez mais, como desporto espectáculo, com uma dinâmica impressionante e, claro, golos. Quando entramos num estádio de futebol, poderemos assistir a golos ou não. No futsal, um jogo sem golos é quase impossível de acontecer. Fomos campeões nacionais e, até ao último segundo, poderíamos não o ter sido. Esta emoção é única”, conclui."