terça-feira, 6 de dezembro de 2016

"Saltou da infância para uma referência no futsal, no desporto e na sociedade"

PRESIDENTE PAULO VIEIRA QUER UM CLUBE CADA VEZ MAIS IMPORTANTE PARA A COMUNIDADE DA TERRA CHÃ


Matraquilhos comemora
dez anos de futsal



 PAULO VIEIRA diz ser urgente a construção de um pavilhão desportivo na Terra Chã


Passaram-se dez anos. Dez anos de um sonho que a dureza da realidade obrigou a assentar. Assentar em bases sólidas, mas também na certeza de que este é um barco que não navega apenas com ilusões. Claro que o que há em cada palavra e em cada memória e em cada projeto e em cada vitória é essa constante fantasia de menino. De meninos, que se calhar nunca sonharam ser o que são hoje. Que sonharam alto, mas se calhar não tão alto. E que continuam a sonhar... mais e ainda mais além.

Matraquilhos Futebol Clube. MFC. É uma história de meninos que cresceram e fizeram crescer um clube que foi realizado em pedaços de alcatrão. Bola sempre colada ao pé, como se este sonho fosse mais do que um sonho. Fosse um projeto de vida. Fundado a 24 de novembro de 2006, desabrochou muito antes, quando tudo não passava de uma brincadeira. Agora tornou-se sério. Tão sério que esse sonho é mesmo o que une todo este mundo matraquilhense.

É já um mundo, pois claro. Saltou da infância para uma referência no futsal, no desporto e na sociedade. Paulo Vieira é um desses meninos, que deu a mão a tantos outros, homens e mulheres, que o começaram a sonhar apenas agora, mas que já fazem desse sonho um sonho seu. Um sonho real. Dez anos de MFC é data solene. É um momento emotivo. O presidente não a esconde. A emoção. As palavras fogem-lhe, mas os olhos contam tudo. Há um brilho de orgulho. Mas percebemos, ali escondida, uma lágrima que era capaz de contar uma história. A sua história. A história de muitos. E a história que ainda está por vir...

SONHAR... MAS!

E é uma história bonita, mas a consciência, agora, é de gente grande. Paulo Vieira sabe os terrenos que pisa, os desafios que foram vergados, os obstáculos que ainda estão por vencer. "O Matraquilhos Futebol Clube é a prova de que os sonhos de criança se podem tornar realidade. A nossa origem é o que nos distingue. Claro que, atualmente, o clube é uma referência no futsal, mas também sabemos que o dirigismo desportivo não vive os melhores dias. São sempre os mesmos a manter as atividades dos clubes". Palavra de presidente. Palavras de que quem, agora, sabe sonhar com os pés bem assentes na terra.

Acabou-se o tempo das aventuras. Das ilusões. O futuro é uma preocupação, mesmo que tenha sido o passado o garante do que ainda está para vir. "Um clube não se faz sem pessoas". Paulo Vieira é um dos pilares do Matraquilhos desde sempre, mas não há certezas eternas. "Temos plena consciência do crescimento do MFC nestes dez anos, mas temos igualmente consciência que, dentro da nossa realidade, manter este nível de qualidade e exigência não é fácil. Os clubes são feitos de pessoas e ter todos os escalões de formação e uma equipa sénior a competir a nível nacional sempre com a 'casa as costas' é muito desgastante", foca Paulo Vieira.
Tempos houve em que tudo se organizava na sua própria casa. Documentos, inscrições, seguros, planeamentos, bolas, equipamentos... O clube já passou por um espaço na Canada de Belém, agora está noutro, mesmo no centro da Terra Chã. Não são as condições ideais, mas é fisicamente a sede do MFC. Porque a alma do clube foi construída ao longo desta década. "O Matraquilhos é um clube assente num grupo de pessoas que serevê nos valores deste projeto. Um projeto que só com muita dedicação tem sido possível manter. Não é uma garantia esta organização que agora existe. Temos essa consciência. Porque sem pessoas, o clube não anda, não funciona". Paulo Vieira sabe que não é eterno. Mas sabe, também, que o clube já criou raízes.

PREOCUPAÇÕES SOCIAIS

Desportivamente, diz que o percurso é "interessante". Os resultados falam por si. Mas Paulo Vieira garante que o Matraquilhos quer mais. Melhor: quer ser mais. "Nestes dez anos temos feito um excelente trabalho desportivo e socialnos diversos escalões, de formação e nos seniores, mas há sempre aspetos a melhorar. Sentimos que, através do futsal e através desta relação entre o desporto e os jovens, poderíamos contribuir de forma muito mais presente, muito mais interventiva e com resultados duradouros numa comunidade que, como se sabe, enfrenta vários problemas a nível social", explica Paulo Vieira.

A experiência que lhe deu o dirigismo e o conhecimento de causa são razões para falar sem receios: "Há um fraco envolvimento das Instituições da freguesia com a atividade do clube. Instituições que têm as mesmas preocupações. Sentimos que estamos isolados quando o projeto tem todas as características e condiçõespara ser acarinhado e integrado no Projeto da Terra Chã. Entendemos que o trabalho coletivo é o que melhores resultados produz e não percebemos que razões levam a que cada um ache que deve trabalhar sozinho quando os problemas que devemos enfrentar e tentar resolver são os mesmos. Mas não podemos esquecer o apoio dado pelo presidente da Junta de Freguesia, Sr. Rómulo Correia, que muito tem contribuído para que o MatraquilhosFutebol Clube possa dignificar o nome da Terra Chã a nível regional e nacional".

Aumentar o número de praticantes nos escalões etários mais baixos, com o intuito de detetar novos talentos que possam evoluir até à equipa sénior, é um dos objetivos do clube a curto prazo, mas o projeto do MFC quer ir mais longe. "Entendemos que o clube tem uma importância enorme para a comunidade onde está inserido, desde logo no apoio na educação social dos jovens. As características específicas da modalidade, quer pelo estabelecimento de regras, desafios e pela integração num grupo, quer pelo sentido de responsabilidade e disciplina, através da prossecução de objetivos individuais e coletivos, podem servir estes intuitos de educação social e para a cidadania, sem esquecer, claro, o desenvolvimento motor dos jovens através de uma prática desportiva adequada", explica Paulo Vieira.



 MFC completou uma década de existência


PAVILHÃO

Sonho maior passava pela construção de um pavilhão desportivo na freguesia da Terra Chã. Paulo Vieira conta-nos que esta foi uma promessa política em tempos, entretanto esquecida. O presidente do MFC afirma que, pela dimensão que o clube já atingiu e pelos patamares que já conseguiu transpor no futsal mesmo a nível nacional, a ausência desta infraestrutura é um óbice ao desenvolvimento desejado.

"A falta deum pavilhão desportivocondiciona toda a evolução que se pretende. Tendo em conda oprojeto de Requalificação do ConjuntoHabitacional da Terra-Chã, consideramos pertinente e oportuno conciliar desde já ahipótese de construção e em paraleloda infraestrutura em causa. Entendemos que possibilitaria não só uma melhoria contínua deste projeto, como o desenvolvimento social crescente e qualificadodos jovens desta comunidade", opina o líder matraquilhense.

"Queremos incentivar os jovens a praticar desporto, ensinando-lhes, ao mesmo tempo, valores importantes para o futuro. Sem um pavilhão, a verdade é que continuamos sempre com a casa às costas, não obstante a existência de um espaço que funciona como sede", atira, ainda, Paulo Vieira.

PERCURSO

O Matraquilhos iniciou a sua atividade desportiva em 2007, com 15 atletas federados. Atualmente conta com cerca de uma centena, nos vários escalões. "A juventude é a base que alicerça este projeto. O clube tem-se estabelecido, cada vez mais, como uma instituição de referência para os jovens desta comunidade, que enfrentam vários problemas sociais, evidentes e do conhecimento público. Já estamos na 4.ª edição do projeto 'Matraquilhos...Para Além do Futsal', um documento estratégico e onde identificamos problemas e possíveis soluções", frisa Paulo Vieira.

"Escolinhas Matraquilhos". Outro projeto em carteira. "Pretendemos fazer do futsal um meio de desenvolvimento multifacetado, na estruturação do comportamento motor e também na criação de hábitos de vida que fomentem a saúde. Consideramos a atuação do Matraquilhos como um verdadeiro meio de prevenção de problemas sociais, como é o caso da toxicodependência. Para o MFC, os escalões de formação são a aposta para o futuro. A ocupação dos tempos livres após horário escolar é também um dos nossos objetivos", reforça o presidente do MFC.

Ponto final numa conversa sobre assuntos que não fazem sonhar. Fazem pensar, refletir, tentar perceber, tentar melhorar. Futsal, vitórias, títulos... Temas importantes, que só são prioridade se o desporto for esse fator de moldagem para uma sociedade melhor. Caso contrário, é ganhar por ganhar. Paulo Vieira garante que essa não é a filosofia do Matraquilhos. Não é para isto e por isto que o clube nasceu. Nasceu de um sonho que continua a ser vivido. E fazer do seu mundo um mundo melhor continua a ser o sonho maior.