segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"Na Segunda Divisão "para competir"

Diário Insular | Desporto | Futsal | 13.10.2014

NUNO VIEIRA, TREINADOR DE FUTSAL DO MATRAQUILHOS FUTEBOL CLUBE


Na Segunda Divisão
"para competir"


 NUNO VIEIRA: "A ambição terá de estar sempre presente, mantendo o objetivo principal de lutar pela manutenção até ao limite"


A manutenção na Segunda Divisão é o principal objetivo, mas Nuno Vieira quer uma equipa ambiciosa. O técnico do MFC mostra-se desapontado com o novo modelo competitivo nacional.
LUÍS ALMEIDA |di






PORVENTURA DE FORMA UNÂNIME, O MATRAQUILHOS FUTEBOL CLUBE (MFC) ERA APONTADO COMO O PRINCIPAL CANDIDATO A CONQUISTAR A SÉRIE AÇORES DE FUTSAL NA TEMPORADA PASSADA. FEITAS AS DEVIDAS ANÁLISES, O QUE SIGNIFICA ESTA SUBIDA À SEGUNDA DIVISÃO, MAS SEM TROFÉU?
Tivemos a coragem de assumir a nossa candidatura ao título na Série Açores logo após a descida da Segunda Divisão e lutámos sempre por esse objetivo, até porque a primeira volta do campeonato é melhor do que aquela que realizámos na primeira edição da Série Açores, que o MFC venceu. Ou seja, somámos a totalidade dos pontos em disputa. Na segunda fase, talvez devido a algum facilitismo ou a dificuldades de controlo emocional, até pelos dois maus resultados logo no início da segunda volta, perdemos o nosso equilíbrio. Por outro lado, é justo atribuir méritos à equipa do Posto Santo nesta conquista.

NO FUNDO, O QUE SEPAROU AS DUAS EQUIPAS? ONDE COMEÇA O MÉRITO DE UM E O DEMÉRITO DE OUTRO?
Considero que há muito mérito do Posto Santo, sem dúvida alguma, mas também há muito demérito do MFC e nós temos consciência disso. Por outro lado, também tínhamos consciência de que seria uma das épocas mais difíceis desde que o clube atingiu os nacionais, isto porque chegávamos de um ano em que tínhamos sido campeões invictos e de outro em que disputámos a Segunda Divisão, uma prova muito exigente e em que as derrotas foram em muito maior número. Emocionalmente, isto terá afetado toda a estrutura, não só os jogadores, como toda a equipa técnica e direção. Gerir uma descida e, de imediato, assumir uma candidatura levou-nos a uma falta de equilíbrio que não era habitual no nosso grupo de trabalho. Isto pesou.

"Açores estão a ser
colocados de parte"
AINDA ASSIM, ACABOU POR SER UMA ÉPOCA POSITIVA?
Sim, se pensarmos que o objetivo principal foi consumado, ou seja, a subida à Segunda Divisão. Aliás, é bom não esquecer que o MFC disputou o título até ao fim.

FUTURO
COMO ANALISA A EDIÇÃO DE 2013/14 DA SÉRIE AÇORES, A ÚLTIMA ENQUANTO PROVA DE ÍNDOLE NACIONAL?
A Série Açores é uma competição positiva, mas o novo formato vai retirar-lhe interesse e motivação. Será uma prova um pouco mais competitiva do que o campeonato de ilha, algo que, na minha opinião, pode deixar de acontecer com o novo formato. As equipas, na Segunda Divisão, começam por competir entre si, para depois, numa segunda fase, disputarem o acesso à Primeira Divisão com adversários muito mais fortes, num quadro tremendamente desequilibrado.

QUAL SERIA A ALTERNATIVA?
A Terceira Divisão deixou de existir... Porventura, concentrar as equipas nas suas ilhas, programar um apuramento regional e apoiar, pelo menos, duas no atual formato da Segunda Divisão. Talvez fosse um cenário positivo. Penso que um nível intermédio seria sempre mais equilibrado para as equipas açorianas. No atual modelo, os Açores, de certa forma, estão a ser colocados de parte...

COLOCAR UMA EQUIPA AÇORIANA A LUTAR POR UMA SUBIDA AO TOPO DA MODALIDADE É UMA SOLUÇÃO QUE NÃO SE ADEQUA À REALIDADE DO FUTSAL REGIONAL?
Olhando para o processo de desenvolvimento da modalidade, a verdade é que este novo modelo extingue um patamar intermédio para os clubes açorianos. Claro que o clube que tem direito ao apoio da "palavra Açores" fica com outra capacidade para gerir este processo, mas esse salto é demasiado alto para os clubes que apenas trabalham com jogadores formados localmente. Numa primeira análise, pode parecer muito positivo ir jogar com os melhores, mas essa falta de equilíbrio pode ser muito prejudicial. Poderá existir frustração por falta de capacidade competitiva.

SENDO A PRÓXIMA ÉPOCA DE TRANSIÇÃO, PODE SER UM ANO SABÁTICO PARA AS EQUIPAS AÇORIANAS NA SEGUNDA DIVISÃO?
As quatro equipas açorianas presentes nesta competição têm consciência de que, segundo os regulamentos, ou se mantêm na Segunda Divisão, ou descem dos nacionais para as provas de ilha. É uma queda grande...

NOVA ÉPOCA

QUE ENSINAMENTOS O MFC RETIROU DA ESTREIA NA SEGUNDA DIVISÃO, REGISTADA HÁ DUAS ÉPOCAS, QUE AINDA POSSAM SER ÚTEIS NESTE REGRESSO?
O MFC teve uma enorme coragem quando decidiu enfrentar, em 2012/13, a Segunda Divisão. E ainda bem que a teve, mesmo sendo a época mais difícil que tivemos até hoje. Em termos de crescimento da estrutura e dos jogadores e enquanto equipa dentro de campo, penso que, neste momento, estamos a recolher os benefícios das dificuldades com que tivemos de lidar. Este é o nosso grande prémio. Se nos focarmos apenas no resultado, a ida à Segunda Divisão foi má. No entanto, esse não foi o nosso principal foco e a verdade é que, em termos de processo, evoluímos imenso. Sinto isto no dia-a-dia do clube.

PARA A NOVA TEMPORADA, ESTA ESTRUTURA DO MFC, EM TERMOS LOGÍSTICOS E DE SUPORTE HUMANO E FINANCEIRO, É A NECESSÁRIA PARA VOLTAR A ENFRENTAR A SEGUNDA DIVISÃO?
Sinceramente, apesar de todo o nosso amadorismo, a dedicação transcende todas as dificuldades. Mesmo no patamar nacional, o MFC tem muita competência para estar a este nível, não obstante a escassez de recursos humanos, quer dirigentes, quer, inclusive, no que toca à equipa técnica.

QUAIS SERÃO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES?
Estávamos a contar com um campeonato regular, mas impuseram-nos jornadas duplas. Isto é algo desmotivante, porque mancha a verdade desportiva e desvaloriza o que o futsal açoriano tem feito pelo futsal nacional. Representamos cerca de 10% do universo nacional e isto está a ser desvalorizado. No entanto, como treinador, compete-me manter os jogadores focados no objetivo, que passa por disputar todos os pontos.

DE FORMA MAIS CONCRETA, A GRANDE META PASSA POR MANTER O CLUBE NESTE PATAMAR COMPETITIVO, OU SEJA, GARANTIR UM LUGAR NA FUTURA SÉRIE AÇORES DA SEGUNDA DIVISÃO NACIONAL?
Sem dúvida. No entanto, penso que o mais fácil será dizer que "será jogo a jogo". A ambição terá de estar sempre presente, mantendo o objetivo principal de lutar pela manutenção até ao limite.

CONHECE QUE NÍVEL COMPETITIVO IRÁ ENCONTRAR?
Vamos defrontar alguns adversários que encontrámos aquando da primeira participação na Segunda Divisão. No entanto, a mensagem que transmito para o grupo é a de que temos de estar focados apenas em nós próprios, trabalhando com seriedade e dedicação. A nossa identidade como equipa será o nosso grande foco.

QUAL É ESSA IDENTIDADE?
Jogar futsal "cara a cara", de posse, sem nos deixarmos intimidar pelos adversários e sem nos fixarmos apenas em defender. Crescemos porque jogámos de igual para igual, foi este um dos ensinamentos que retirámos da primeira participação. Neste momento, vamos para a Segunda Divisão para competir.

Aposta na continuidade

QUAL A BASE DO PLANTEL DO MFC? HÁ UM GRUPO DE CONTINUIDADE, OU EXISTEM DIFERENÇAS SUBSTANCIAIS PARA AQUELE QUE FEZ A ESTREIA NA SEGUNDA DIVISÃO?
Desde que o MFC atingiu os nacionais que há uma base de continuidade, algo que, para mim, é fundamental. É importante que os jogadores estejam adaptados ao clube e às minhas metodologias, pois se pretendemos ir para a Segunda Divisão competir, não podemos estar a formar jogadores neste momento. Precisamos de bases, de conceitos e de identidade. Neste momento, estou muito contente com o grupo de trabalho.

A FORMAÇÃO TEM - OU PODE VIR A TER - UM PAPEL MAIS ATIVO NO PLANTEL DO MFC?
Sou um sonhador, mas noto que, mesmo dentro da própria formação do MFC, somos nós a ter mais vontade do que eles. Percebo que a primeira época de sénior, por ser de transição, é um momento crítico, mas a desistência tem sido sempre o primeiro passo. No entanto, também já se deu o caso de atletas que chegaram da formação de outros clubes e que respeitam a história do MFC e dão muito valor ao facto de estarem nos seniores do Matraquilhos. Apontar culpados é o mais fácil... É uma falha do processo e do nosso contexto social.

MAS A FORMAÇÃO FOI TIDA COMO UM DOS PRINCIPAIS BALUARTES DO APARECIMENTO DO MFC...
E tanto assim é que, para esta temporada, apostamos em cinco seniores de primeira época, quatro deles formados no clube. Estamos a fazer o nosso papel e os nossos jovens não nos podem acusar de não fazermos esta aposta. Neste assunto, o problema será a palavra "projeto". Provavelmente, faltam-nos bons projetos na ilha.

COM DUAS MODALIDADES INTEGRADAS NO MESMO ORGANISMO, O FUTSAL SENTE-SE DEVIDAMENTE APOIADO PELA AFAH?
O futsal tem uma grande representatividade, mas não sentimos esse carinho na prática, como se vê por algumas medidas tomadas no passado, como, por exemplo, a não participação nas competições jovens nacionais. Agora surge a questão das jornadas duplas... Os clubes não são ouvidos e não há diálogo com a AFAH. Se quem está no topo da pirâmide não ouve a opinião de quem está diariamente no terreno, então temos um desfasamento muito preocupante e que pode ser prejudicial.

 TREINADOR do MFC aponta falhas ao novo modelo competitivo nacional

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