segunda-feira, 13 de julho de 2015

“Futsal terceirense tem de passar das desculpas para as soluções” / TREINADOR do Burinhosa apela à união do futsal terceirense

Fonte: Diário Insular | Desporto | Futsal | Burinhosa | Kitó Ferreira | 13JUL2015

SEGUNDO KITÓ FERREIRA, TREINADOR DO BURINHOSA

“Futsal terceirense tem de passar das desculpas para as soluções”
KITÓ FERREIRA: "É preciso que os treinadores que competem a nível nacional partilhem as suas experiências com todos"

 TREINADOR do Burinhosa apela à união do futsal terceirense

Esteve no III Congresso de Treinadores e destaca a qualidade do futsal terceirense. No entanto, Kitó Ferreira afirma que os técnicos locais vivem demasiado fechados. Partilha de conhecimentos é o caminho.
LUÍS ALMEIDA |di
Chegar, ver e apontar o caminho. Travar a desculpabilização face às dificuldades atuais e caminhar para as soluções necessárias a um futsal mais evoluído, de maior qualidade e que junte todos à volta deste objetivo. Kitó Ferreira, um dos técnicos da elite da modalidade a nível nacional, esteve presente no III Congresso de Treinadores de Futsal da Ilha Terceira e traçou um quadro com ótimas perspetivas de futuro. Diz que o futsal na ilha "pode fazer história", mas fala, também, em falta de mentalidade e em pessoas "fechadas na sua própria concha".

Dizem-nos que é um homem que "vive e respira futsal". Em tempos defrontou Matraquilhos e Posto Santo nos nacionais e levou da ilha uma imagem de futuro. Hoje é treinador do Burinhosa, equipa da Associação de Futebol de Leiria que atingiu os quartos-de-final da Liga Sport Zone, o principal campeonato em Portugal. Mais do que ensinar a jogar, na Terceira tentou ensinar a crescer.

"Fiz um apanhado do que era o futsal na Terceira e informei-me, claramente, de como está a modalidade. Nesse sentido, apercebi-me que o futsal na ilha está recheado de pessoas com muita vontade de aprender, mas cada um vive fechado em si próprio. Lembro-me que, há 15 anos, existia a mesma realidade em Leiria. Ou seja, Leiria está 'no meio' de Lisboa e do Porto e, no continente, costuma-se dizer que futsal é apenas Lisboa e Porto. Nós fomos capazes de romper com este paradigma e foi esta experiência que tentei passar no Congresso", conta-nos um dos preletores no III Congresso de Treinadores de Futsal da Ilha Terceira, evento organizado pelos técnicos terceirenses Nuno Vieira, Carlos Brasil e Frederico Cardoso.

ANÁLISETodos muito fechados, cada um na sua concha e muito preocupados com os aspetos negativos. É esta a análise de Kitó Ferreira. "A verdade é que, no final do Congresso, houve uma alteração extraordinária naquilo que deve ser a responsabilidade dos treinadores na ilha Terceira. O futsal, hoje, é cultural e a Terceira mostra bem esta força na quantidade de equipas e na qualidade que já vai apresentando. Mas não se podem fechar...", sustenta o treinador.


A mentalidade desportiva é uma das questões a melhorar, mas também a nível cultural existem razões que levam a este isolamento, algo que Kitó Ferreira diz ser transversal a todo o país. "Mas há uma coisa que tem de ser dita: o futsal é importante na sociedade terceirense e as pessoas do futsal se não forem capazes de transmitir isto à sociedade, então, a culpa será delas próprias", acrescenta, em tom de aviso. 

Certo é que a mensagem passou e Kitó Ferreira acredita que pode existir uma mudança de paradigma. Diz-nos que, no final do Congresso, as expectativas foram superadas. "Inicialmente, todos eles estavam fechados e a pensar que eu iria dar receitas para todos os problemas. Não foi isto que aconteceu. Preocupei-me em fazê-los pensar e em transmitir que, através da partilha de ideias com outros treinadores que já cá estiveram, é possível fazer evoluir o futsal na ilha", explica.

FAZER HISTÓRIA!

Apesar destes alertas, o treinador do Burinhosa não deixa de elogiar o trabalho que tem sido desenvolvido no futsal terceirense. Deixa claro que há ainda um longo caminho a percorrer, mas fala em qualidade e em condições propícias para um crescimento sustentado. Kitó Ferreira vai mais longe e afirma que a modalidade na ilha Terceira pode até fazer história. "Observo que há qualidade, mas de forma fechada, por vezes até em forma de 'uma guerra' uns com os outros e mais focados nos problemas e nas desculpas. Penso que a partir do momento em que o foco estiver nas soluções, o futsal na ilha Terceira tem qualidade para ser melhor", refere.

Para isso, continua Kitó Ferreira, torna-se crucial realizar um trabalho qualitativo naquilo que é o ensinamento da modalidade junto dos jovens, mas também apostar na partilha de conhecimento. "É preciso, por exemplo, que os treinadores que competem a nível nacional, no continente, partilhem estas experiências e estas ideias com todos. Se todos partilharem as suas ideias, a suas experiências e as suas vivências, então todos irão evoluir, pois se o adversário souber tanto ou mais do que eu, vai-me obrigar a estudar, a pensar e a evoluir. Quando esta mensagem chegar aos jogadores, aos clubes e, inclusive, aos adeptos, o futsal da ilha Terceira vai crescer e, se calhar, pode fazer história", frisa o treinador.

Colega de Duarte Melo, técnico do Posto Santo, no curso de treinadores de Nível III, Kitó Ferreira deixa também elogios à prestação das equipas terceirenses no nacional da 2.ª Divisão. "Na Terceira apenas se fala nas dificuldades, mas mesmo dentro deste quadro nota-se que há qualidade. Caso contrário, Matraquilhos e Posto Santo não tinham feito o trabalho que fizeram. Quando forem capazes de ultrapassar a barreira da desculpa e partir para soluções reais, esta qualidade, comprovada pelas participações na 2.ª Divisão, poderá aumentar ainda mais", opina, não obstante a despromoção do Posto Santo.

Já no que toca ao setor da formação, há alicerces que devem merecer continuidade e reforço, mas este é um trabalho que ainda não apresenta o volume desejado. "Digamos que encontrei, pelo menos, a preocupação por parte dos treinadores em fazer este trabalho na formação, embora reconheça que há alguma qualidade, até pela participação de alguns miúdos nas componentes práticas do Congresso. Existindo essa base, é necessário reforçar este trabalho e a sua qualidade", diz o treinador Kitó Ferreira.

PERFIL DO JOGADOR

O Congresso de Treinadores de Futsal tem recebido, ao longo de três edições, alguns treinadores de renome, integrados em realidades completamente diferentes, não só em termos de quadros competitivos, como no que toca à qualidade do futsal e ao seu nível organizativo, diretivo e de exigência. Mesmo assim, Kitó Ferreira entende que, em termos técnicos e táticos, é possível colocar em prática as ideias transmitidas numa realidade como a da ilha Terceira, obviamente menos evoluída.

"É possível implementar algumas situações, nomeadamente nos aspetos da mentalidade competitiva, até porque, muitas vezes, as questões técnico-táticas também passam por uma questão de mentalidade. Em termos táticos, é possível promover maior agressividade e implementar um modelo próprio, agregado às caraterísticas do jogador da ilha Terceira. Aliás, seria importante criar um perfil do jogador da ilha Terceira, o que ainda não existe", esclarece.
Esta radiografia ao perfil do jogador terceirense volta a centrar-se nos problemas e não nas soluções. A análise, ainda assim, também aponta para a qualidade: "Consegui perceber em muitos jovens essa mentalidade direcionada para a desculpa, mas também uma vontade enorme de aprender. É necessário que lhes indiquem o caminho certo. Havendo esse acompanhamento, não tenho dúvidas de que a ilha Terceira, dentro de pouco tempo, poderá ser um caso sério a nível nacional".

Nova Série Açores
"não faz sentido"

Kitó Ferreira afirma que a evolução do futsal terceirense pode ser travada pela criação da Série Açores da 2.ª Divisão Nacional. O treinador explica que jogadores, treinadores e as próprias gestões dos clubes só irão crescer se estiverem inseridas em realidades competitivas mais exigentes. Aliás, o treinador do Burinhosa promete não deixar o assunto esquecido quando regressar ao continente.
"Foi uma das situações negativas que retirei do Congresso e, inclusive, responsabilizei-me para, quando chegar ao Continente, intervir junto da Federação no sentido de perceber as razões para esta mudança. E vou fazê-lo. Neste momento, ainda não percebi por que razão se apontou para um campeonato apenas com equipas dos Açores, mas vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que o futsal insular passe a ser, constantemente, uma parte integrante do futsal no país e não fique isolado. Na minha opinião, é algo que não faz sentido", atira.
Kitó Ferreira revela, inclusive, que encontrou enorme descontentamento junto dos responsáveis terceirenses perante esta alteração aos quadros competitivos. Mas: "É necessário ir à luta, passando a focar as atenções na solução e não nos problemas. Sei que não é fácil, mas depende dos treinadores e dos responsáveis pela modalidade. Se lutarem por aquilo a que têm direito, estou certo que o futsal terceirense pode fazer história".
Recorde-se que o Matraquilhos assegurou a permanência no Campeonato Nacional da 2.ª Divisão, naquela que foi a segunda participação do clube neste escalão. A turma da Terra Chã foi, aliás, a melhor equipa açoriana em prova. Já o Posto Santo não escapou à despromoção.

Sem comentários: