domingo, 22 de setembro de 2013

"Dos "torneios de brincar" para os "títulos a sério"

Fonte: Diário Insular | Desporto | Futsal | 22.SET.13

REPORTAGEMLUÍS ALMEIDA
FOTOGRAFIAPAULO GIL

PAULO VIEIRA


MATRAQUILHOS
HOMENAGEADO



Dos "torneios de brincar" para os "títulos a sério" foi um grande passo que a memória guarda com carinho. Paulo Vieira lembra-se bem desses verdes anos: sapatilhas com o buraquinho da praxe, joelhos com uma ou duas arranhadelas, balizas pintadas paredes meias com o quintal das vizinhas e um campo de alcatrão transformado em relvado de sonhos. Hoje, a história do Matraquilhos Futebol Clube é um pouco diferente e o grupo de amigos deu lugar a uma coletividade desportiva de referência para a freguesia da Terra Chã. Cresceu em ambição, mas também em responsabilidade, embora no fundo se mantenha a mesma paixão dos tempos de criança. O que representa atualmente o clube, quer pelo trabalho junto dos escalões de formação, quer pelos títulos já conquistados, foi alvo de uma homenagem por parte da Junta de Freguesia, cerimónia inserida nas comemorações do 188.º aniversário da Terra Chã e que também presenteou o Coro Tibério Franco.

Paulo Vieira é, por isso, um homem orgulhoso, não só pelo reconhecimento por parte de uma das principais forças vivas da freguesia, mas sobretudo pelo trabalhado desenvolvido desde 2006, ano da fundação do Matraquilhos. "É, sem dúvida, uma homenagem que nos orgulha imenso e que premeia de forma bem vincada o trabalho que desenvolvemos diariamente no Matraquilhos, especialmente numa localidade angrense onde os problemas sociais são conhecidos. Este reconhecimento por parte da freguesia da Terra Chã é extremamente importante para nós. Sinto, de facto, essa aproximação, ao contrário do que se verificou no passado. Ainda não existe uma abertura total, mas entendemos que o apoio da freguesia, tanto dos seus habitantes como das suas forças vivas, é decisivo para a solidificação do nosso projeto", comenta.

Natural da Vila Nova, Paulo Vieira cresceu na Terra Chã, onde ainda reside. Sócio fundador do Matraquilhos Futebol Clube, já desempenhou outros cargos antes de assumir a presidência da coletividade. Aos 36 anos, continua a manter um "prazer especial" no treino com os jovens, onde tem a seu cargo dois escalões, mas são as funções diretivas que lhe absorvem quase todas as preocupações presentes e futuras. Rigor é, garante-nos, umas das palavras de ordem na sua atuação enquanto presidente do Matraquilhos. "A verdade é que temos um 'grande barco para navegar'. São muitas as conquistas, apesar de ainda sermos um clube jovem, mas também um imenso trabalho. As dificuldades presentes, todavia, colocam algumas interrogações quanto ao futuro. A conjuntura económica é extremamente desfavorável e os cortes nos apoios oficiais, a que se junta o acréscimo com as despesas, criam ainda maiores problemas aos clubes", sublinha Paulo Vieira, frisando a importância do equilíbrio financeiro no desporto.

Depois de conquistar a primeira edição da Série Açores de Futsal da 3.ª Divisão Nacional, o Matraquilhos Futebol Clube fez a estreia absoluta na 2.ª Divisão na época passada, embora os comandados de Nuno Vieira não tenham evitado a descida de escalão. Apesar de tudo, o presidente fala num momento importante para o clube, que serviu, acima de tudo, de aprendizagem. "É evidente que, em termos desportivos, o objetivo passava pela manutenção, mas esse falhanço não impede que retiremos algo de muito positivo da participação na 2.ª Divisão. Penso que todos os que compõem este clube, desde dirigentes a treinadores, passando pelos próprios atletas, aprenderam imenso com esta participação. É uma experiência, sem dúvida alguma, que queremos repetir, pois, pessoalmente, adorei estar na 2.ª Divisão. É outro nível, mais exigente e competitivo. É onde o Matraquilhos merece estar", refere Paulo Vieira, ao mesmo tempo que assume a candidatura ao título da Série Açores.

Não obstante a importância do plantel sénior enquanto referência desportiva, Paulo Vieira dá nota de enorme destaque ao setor da formação, área onde o clube tem investido fortemente ao longo das últimas três épocas. Aliás, a turma da Terra Chã foi a primeira a nível Açores a formar todos os escalões etários no futsal, realidade que se mantém para 2013/14, com cerca de uma centena de futsalistas. Ainda assim, o presidente matraquilhense fala num trabalho intenso, mas nem sempre profícuo. "Temos muito orgulho na nossa formação, mas por vezes penso que queremos mais do que os jovens. Falta mentalidade à nossa juventude para que seja possível enfrentar o crescente nível de exigência. Este ano, por exemplo, quando pela primeira vez teríamos uma verdadeira continuidade entre os juniores e os seniores, alguns atletas, pura e simplesmente desistiram. Os jovens nem sempre compreendem a importância da formação desportiva. Por vezes fazem-na apenas por diversão ou obrigação", lamenta Paulo Vieira.

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