terça-feira, 25 de novembro de 2008

Fonte: Jornal "a União"
Autor: Renato Gonçalves (renato@auniao.com)
Futsal ganha primazia na Terceira

"Introduzido em Portugal nos finais dos anos 70, o futsal está no seio da Federação Portuguesa de Futebol desde 1997. Nos últimos anos, a maior exposição mediática, fruto da entrada de populares clubes de futebol como o Sporting e o Benfica, potenciaram o crescimento da modalidade, tornando-a segunda mais praticada em Portugal.

Para se ter uma ideia deste crescimento, entre 1995 e 2005, o número de praticantes quadriplicou, passando dos 5157 para os 22267.

A crescente popularidade da modalidade também se tem feito sentir na Terceira. No seio da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo (AFAH), há seis anos, o "futsal deu um grande salto em termos de praticantes", diz Francisco Costa presidente da Associação.

Esta época, o campeonato sénior masculino conta com a participação de 13 equipas a que se juntam mais sete do campeonato feminino, num total de 345 inscritos nos masculinos e 113 nos femininos.

A este número há que acrescentar os diferentes escalões de formação, que esta época sofreram uma remodelação do quadro competitivo, com a AFAH a realizar pela primeira vez um campeonato de juniores femininos e quatro campeonatos de formação para os homens.
"Começámos o futsal na AFAH com seis ou sete equipas e a aposta que fizemos na promoção da modalidade fez com que esse número subisse para os 14, 15 clubes. Julgo que os 13 actuais no campeonato sénior masculino são um número estável, mas a nível de formação poderemos crescer", defende o presidente da AFAH.

Também a nível do INATEL, o futsal tem registado uma cada vez mais adesão. Esta temporada o campeonato daquele organismo comporta uma dúzia de equipas, número que está limitado às condições existentes.
"Temos muitos pedidos de gente que que entrar no nosso campeonato, mas não temos condições para alargar o número. Só dispomos do pavilhão municipal de Angra do Heroísmo e desta forma estamos limitados, mas a tendência dos últimos anos é a do crescimento no futsal e uma diminuição de participantes no futebol de 11. Já chegamos a ter 18 equipas de futebol há meia dúzia de anos, neste momento são apenas oito", refere Raul Tânger, responsável pelo desporto do INATEL.

Futebol em quebra?
A popularidade do futsal tem levado a que alguns jogadores de futebol 11 optem por trocar de modalidade.
É o caso de Duarte Melo, antigo jogador do Lusitânia e Angrense, e actual atleta e treinador no Posto Santo. Segundo o antigo futebolista, o apelo do futsal passa por "viver mais da técnica do jogador, este está sempre envolvido na acção da partida".

Para Duarte Melo, "na Terceira o futebol é jogado muito à base da força, muita bola pelo ar, não há muito espaço para a técnica, há demasiada carga física, o que para mim, retira muito do prazer de jogar.

"Depois, temos também a vantagem de estarmos num pavilhão, abrigados dos rigores do inverno. Mesmo sendo renumerados no futebol tive muitos colegas de equipas que também optaram por mudar para o futsal" - acrescentou.

A nível de clubes, olhando para o número de participantes no campeonato da ilha Terceira, constata-se serem apenas sete, um número muito abaixo do registado há não muito tempo atrás. Vários clubes da Terceira deixaram de ter futebol para optarem apenas pelo futsal como é o caso do União Desportiva Praiense, mais conhecido pelos "Brancos da Praia".

Francisco Rocha, presidente do clube, recorda a situação precária que o clube viveu "estava praticamente fechado", afirma, tendo, nessa altura, aparecido um grupo de antigos jogadores de futebol que se juntaram para formar uma equipa de futsal "sem custos para o clube".

Neste momento, os "Brancos" possuem já uma equipa de Infantis e num futuro próximo pretendem criar mais uma de Iniciados, um projecto de formação que o presidente considera "bastante engraçado e que está a ter muito sucesso, temos muitas crianças a querer jogar futsal".
A mesma situação viveu o União Sebastianense. Neste momento a freguesia de S.Sebastião tem duas equipas no campeonato futsal, mas não existe futebol. Para Francisco Santos, presidente do clube, esta situação deveu-se “a uma quebra nas direcções, não havia ninguém para gerir o clube e os que estavam ficaram cansados e foram-se embora. A parte financeira também pesou, mas a falta de directores foi decisiva”. No entanto o dirigente diz “existir entre os jovens muita vontade de fazer regressar o futebol a S.Sebastião, creio que dentro de um ou dois anos esse desejo poderá ser realidade”. Apesar destes exemplos, Franscisco Costa, presidente da AFAH, não considera que o futebol esteja a ser prejudicado com a emergência do futsal. De acordo com o dirigente o número de equipas de futebol não só é maior “por falta de esforço de algumas entidades, incluindo a Associação, e por falta de dirigentes”. Sobre os maiores encargos necessários para a prática do futebol, Francisco Costa diz ser uma falsa questão pois “os custos são aqueles que os clubes quiserem. As inscrições são suportadas pela AFAH em 60%, não me parece que seja por aí, cabe depois ao clubes saber o que pretendem gastar com jogadores e técnicos, não é necessário ter futebol amador com gastos que alguns clubes querem ter e que depois não podem suportar”. O presidente lembra os números de praticantes do futebol de 11 (1102 em 2007, 1139 em 2008) e refere que os escalões de formação “têm estado forts” e nalguns escalões como juniores e juvenis “poderíamos ter mais clubes”. “Para uma ilha com 50 mil habitantes, termos 2300 inscritos no futebol e no futsal dá uma percentagem maior que em S.Miguel. Julgo que os clubes com tradições no futebol e que tem formação irão sempre tentar manter a modalidade, os novos clubes é que apostam no futsal” – sublinha. “Para além do futsal” Um exemplo de novo clube que apostou no futsal é o Matraquilhos Futebol Clube. Fundado na Terra-Chã em 2006, fruto de um grupo de amigos que jogava futsal em torneios de Verão e que decidiu avançar para a constituição de uma equipa, assim nasceu o Matraquilhos. Neste momento, o clube da Terra-Chã conta perto de 60 atletas, a participar nos campeonatos seniores masculinos e femininos e nos escalões de formação em juniores, juniores B e juniores C. A manutenção destas equipas custa anualmente ao clube três mil euros cada equipa sénior e entre 1800 a 2000 euros os escalões de formação, segundo Paulo Vieira, treinador dos seniores masculinos e um dos fundadores, para quem o grande problema do Matraquilhos passa pela falta de pavilhão, razão pela qual o clube pretende num futuro próximo “montar um pavilhão na Terra-Chã, ao mesmo tempo que desenvolve um projecto com o objectivo primordial de “ir ao encontro das necessidades dos jovens da comunidade em que está inserido, tornando-se numa instituição de referência na freguesia”, pode ler-se no seu site, fazendo assim jus ao lema “para além do futsal”. A falta de pavilhões na Terceira é mesmo uma das maiores queixas dos elementos ligados ao futsal contactados pela “a União”. “Especialmente para os escalões de formação é complicado conseguir locais para treinar”, afirma Paulo Vieira, opinião corroborada por Duarte Melo que aponta casos de equipas “que tem que treinar na rua por falta de local, pelo que julgo que se fossem feitos mais quatro ou cinco pavilhões no concelho de Angra do Heroísmo não seria um exagero para a procura que existe neste momento”.

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